Fim

noite
Por: Dolores da Silva

Só as paredes sozinhas, e eu.
Ele chegava tarde todas as noites
E todos os dias eram estranhos
Aqueles momentos de espera
As horas vazias, arrastando-me
Enquanto esperava … Só… Estar.
Corria à geladeira
Com o cigarro queimando entre os dedos
Acendia meu ânimo com goles
De uma cerveja amarga,
Que aquecia-me o apetite
Para mais uma noite
Que veria a porta se abrir
E o vulto ganhar forma
Mas, de repente era madrugada
E quando a luz clareou
Já estava escuro demais
E não vi… Era muito tarde!

Panelaço, coxinhas, manifestações e suas contradições

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A miscelânea continua. Conta-se com a presença de celebridades, os saudosistas do período militar, os revoltados contra a corrupção, os exaltados contra o partido do PT, além dos afoitos comentários de caráter malevolente e desrespeitosos à “pessoa” da Presidenta Dilma Roussef e ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

São compreensíveis as reivindicações e sou consoante para com algumas. São manifestações genuínas, contrárias aos procedimentos adotados pelo atual governo, tendo em vista os diversos escândalos envolvendo membros que compõem a máquina do estado. Falcatruas, roubos, planos de ações inviáveis… quem gosta disso?!

Mas, por outro lado, sinto as contradições discursivas que se apoiam na insatisfação popular: celebridades que se auto promovem com a roupagem “do povo”, quando estão apenas preocupadas em manter o que têm. Os pedidos de intervenção militar, aparentemente esquecidos da realidade de quem viveu ou soube postumamente a respeito dos efeitos da ditadura, onde ninguém teria a possibilidade de se mostrar partidário a qualquer interesse. Dos corruptos membros do PT – a especificidade partidária é salientada devido ao contexto atual e por ser comprobatória – desconsiderando o lençol de corrupção que cobre nosso país desde sua formação – como se em algum momento houvera um partido incorruptível. E aprofundando um pouco mais, na singularidade cotidiana dos “pequenos” atos: na hora de “molhar” as mãos do guarda de trânsito para evitar uma multa, do “passar o pano” para o amigo no trabalho, do desviar da blitz após ter “tomado umas”, “furando” a fila… a lista é grande. E mais absurdo ainda é chamar uma pessoa de “vaca”, de “cachaceiro”, “burro”, entre outros adjetivos torpes, é totalmente incoerente ao discurso de quem pede moralidade na política e não tem atitude cívica e educação básica.

Quando a lei 4.330 (terceirização dos serviços) foi aprovada, não vi uma única celebridade, um único participante que esteve na abertura da Copa do Mundo – mostrando o quanto somos “pobres” ao xingar nossa chefe de Estado, ao invés de agir com maturidade politizada – não vimos nenhum dos grupos como o “vou pra rua”, “revoltados online”, “movimento Brasil livre” e outros mais se manifestarem CONTRA a aprovação desta…
A lista de deputados está cheia de assinaturas do PMDB, PSDB (aos “aecianos” encurralados entre as avalanches de indignações e o maniqueísmo midiático falsamente solidário aos cidadãos mais empobrecidos financeiramente, leiam a lista e vejam os partidos e nomes dos aprovadores dessa lei) e notem que ninguém está preocupado em promover condições favoráveis e possibilidades de ascensão dos menos favorecidos. Essas contravenções são partidárias, têm objetivos controversos ao apoio (e apelo) popular.
Não seja massa de manobra. Pense! Analise! E não se deixe enganar: quem tem, mais quer ter; quem não tem, nem sabe o que é ter.
Precisamos de reforma política e não de colarinhos brancos no poder (como já tivemos).

Terceirização da Câmara dos Deputados! Aprovado!

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A terceirização garante mão de obra especializada, custo baixo, responsabilidade indireta, entre outros benefícios, como maior abertura para disputa de prestação de serviço. Perfeito, não é?!

Então, vamos pedir a promulgação de uma nova lei que terceirize a Câmara dos Deputados e com isso garantiremos: especialistas na criação de leis, com objetivo de alcançar resultados que sejam benéficos para o bem da sociedade, salários baixos que contribuirão na redução da despesa orçamentária do Estado (considerando a crise financeira que estamos passando), maior dedicação e força de trabalho no desenvolvimento e criação de leis, e uma concorrência acirrada dos interessados em prestar serviço à sociedade, ganhado pouco e trabalhando muito. Com isso, o preconceito existente entre as classes trabalhadoras deixa de existir, pois todos lutam arduamente em busca de um bem maior, sendo útil e prestando um excelente serviço (especializado)… Se algo der errado, a responsabilidade é indireta, não precisa ter preocupação, há respaldo jurídico, ninguém será condenado injustamente. É lindíssimo!

Além, claro, que se houver algum protesto contra essa terceirização, a polícia estará preparada para inibir qualquer movimento contrário a esse bem social, a essa perspicácia evolutiva das leis trabalhistas, de forma efetiva e contundente, típica do militarismo, que alguns saudosistas sentem tanta ausência nesse período desorientado que vivemos. Ordem e progresso! Viva o positivismo! Viva a evolução! Os Excelentíssimos Deputados aprovam! #sqn.

E Deus continua morto…

O pragmatismo religioso, responsável por mortes de inocentes e a fecundação de uma moral preconceituosa,, leva-nos a questionar a verossimilhança expressa com revolta na fala de um dos maiores pensadores do séc. XIX, ao gritar para o mundo que “Deus está morto!”.

E salienta-se: essa frase ainda nos dias atuais é fruto de uma comercialização ideológica isenta de sentido.

Mas, voltando… Ao afirmar “deus está morto” em uma sociedade cristianizada, a heresia se torna predicativo de um sujeito que não compreende como os próprios representantes de uma instituição que deveria ser auxiliadora e empática com os humildes e necessitados, ao contrário, os marginaliza. Os mata em seu próprio Nome.

É chocante ouvir “deus está morto”, mas não tanto é ver a quantidade de pessoas que são enganadas por “profetas” da palavra de deus. Palavra esta friamente articulada com um único objetivo: sugar a vida. Roubar o tempo e dinheiro.

Não choca ver cristões condenarem seu semelhante com argumentações extraídas de um livro contraditório e com múltiplas interpretações.

Preconceito, morte, julgamento, condenação, pecado, céu, inferno, é aceitável! Acreditar que o “deus” desses mentirosos está morto não é.

Os séculos passaram, mudanças ocorreram, os erros permanecem… E deus continua morto.

Certo é que “a fé é divina e a religião abominável”, ou seja, quem acredita pode alcançar. Palavras podem ser mais que palavras, podem ser perspectivas, mesmo proferidas por um lobo com pele de cordeiro.

O que não é certo, é desconsiderar o primeiro mandamento (“amar a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo”) para aceitar doutrinas preconceituosas e acreditar que sendo dono de uma verdade que somente pra você faz sentido, estará em condição de julgar e ainda mais, condenar seu semelhante.