Lives, música e coronavírus: oportunidade e oportunismo

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Desde que estourou a crise sanitária por conta do coronavírus, os músicos (e digo isso com conhecimento de causa), estão sofrendo com o cancelamento dos seus trabalhos. Pessoalmente, todos os meus trabalhos foram cancelados, incluindo casamentos, festas, apresentações em bares e eventos e até mesmo aulas. Um verdadeiro prejuízo que, muito provavelmente, nenhum músico (ou até mesmo artista) estavam preparados para enfrentar, o que até me despertou um alerta de que é sempre necessário que profissionais autônomos, não somente os músicos, tenham mais de uma fonte de renda. Depender só de uma pode significar suicídio.

Logo nas primeiras semanas, acabei entrando numa ferrenha discussão em um grupo de artistas por conta de um projeto absurdo que tramitava na Câmara Municipal de São Paulo: um edital para bancar um projeto em que músicos e artistas se apresentariam das janelas, inspirado no que músicos e artistas vinham fazendo no mundo todo por conta da quarentena do coronavírus, especiamente na Itália. Por sorte, o projeto foi derrubado por um jovem advogado chamado Daniel Victor Ferreira Gallo, o qual tive a oportunidade de agradecer e parabenizar pela ação.

Aqui no Brasil, a mentalidade paternalista supera qualquer senso de razoabilidade que as pessoas poderiam ter, ainda mais num momento como esse. O artista padrão brasileiro, além de estatista, é também, na maioria das vezes, esquerdista, e acredita que o estado deve, de alguma maneira, incentivar a arte. Ainda vou destrinchar esse tema em breve em outro texto.

Por outro lado, na mesma época, alguns colegas músicos começaram a fazer lives em várias plataformas, como Instagram e Facebook, com o objetivo de levantar algum dinheiro sem sair de casa. Até mesmo eu fiz uma live com um amigo, que foi bem legal mas que não tinha o intuito de arrecadar nenhuma quantia. Essa prática despertou a atenção de grandes artistas, especialmente os do mainstream do sertanejo, que viram a oportunidade de, além de arrecadar suprimentos e doações, construir uma imagem positiva durante a quarentena. A primeira grande live transmitida foi a do cantor Gusttavo Lima. Com aproximadamente 5 horas de duração e quebrando todos os recordes de audiência, o cantor arrecadou alimentos, insumos hospitalares e mais de 100 mil reais que foram destinados a instituições de caridade.

Aí virou festa. Cantores do universo do sertanejo, como Jorge e Mateus, Marília Mendonça, Marcos e Belluti, Bruno e Marrone e muitos outros, arrebataram centenas milhares de fãs pela internet em lives muito bem produzidas, com ótima qualidade de vídeo e áudio e arrecadando uma enorme quantidade de doações. Eu não sou um grande fã de música sertaneja e confesso que não assisti a nenhuma live do gênero. Mas é muito gratificante ver que, por mais que haja um interesse no buzz e na imagem desses artistas, que tratam suas carreiras como um negócio, existe uma parcela de humanidade no que estão fazendo e é muito bonito ver que estão usando o poder de influência que tem para fazer o bem. O coronavírus continua a assustar a humanidade e são necessárias mais iniciativas como essas.

Mas a reflexão que eu gostaria de deixar é ainda outra. Artistas como esses, que são extremamente bem-sucedidos hoje em dia e ocupam o mainstream da classe artística, não são, na maioria das vezes, oriundos da elite artística, muito menos da elite econômica. São pessoas que, na grande maioria dos casos, tiveram uma dura tragetória até atingir o status atual. Nenhum deles precisou de um edital que retirasse o dinheiro das pessoas à força para bancar as suas carreiras. Muito pelo contrário: estão usando do sucesso que obtiveram através do seu esforço para ajudar as pessoas.

Em compensação, uma vanguarda, uma elite artística que, inclusive, fala muito mal dos “sertanejos” (dor de cotovelo pelo sucesso e dinheiro que eles não tem), adoram pegar um edital aqui, outro ali, Rouanet, Proac… e até agora, não vi nenhum desses artistas mover uma palha sequer para ajudar alguém. Esses mesmos artistas que são politizadíssimos, que idolatram ditadores, torturadores e os maiores genocidas da história da humanidade.

Esses mesmos artistas juram que defendem os pobres. Poderiam, então, começar por não tirar o dinheiro dos pobres para financiar os seus projetos.

 

Preto, pobre, mulher, gay e artista: afinal. Quem pode ter opinião própria?

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Vamos evocar aqui uma figura controversa. Carismática, mas, quase sempre, inconveniente. Adora cuidar da vida, mas não da própria. Adora por defeito nos outros para poder justificar os próprios. Uma mistura de juiz e repórter investigativo. Olhar por cima do muro, pelas frestas do portão. Assim, chega ao seu veredito e manda a reputação, de quem quer que seja o réu, direto para a prisão: uma caixinha, rotulada, que essa figura propagandeia aos quatro ventos mas que esconde por trás das costas, e de um sorriso amarelo, quando cruza por aí com o infeliz condenado, que sorri de volta e nem imagina que, por trás, já foi apunhalado. Cagueta, Zé povinho, língua de trapo, Fifi, leva e traz… não faltam alcunhas para essa figura que é, mais frequentemente (e carinhosamente), apelidada de vizinho fofoqueiro.

Nesses tempos de vizinhança globalizada, as fronteiras da nossa querida personagem se agigantaram: agora você tem vizinhos fofoqueiros que moram a 100, 200, 1000 km de distância. As vezes podem nem falar a sua língua. Não é raro ele nunca ter te visto pessoalmente. Mas estão sempre prontos para te colocar nas tais caixinhas.

As janelas desse vizinho moderno, conectado, se chamam gadget. Dessa janela, o vizinho vê muitas ruas: Instagram, Facebook… os mais assanhados estão de olho na rua Badoo, Xvideos e outras similares no mesmo quarteirão.

E a moral desse vizinho? Outrora conservador – com o perdão aos conservadores, pelo esvaziamento do termo -, hoje ele é progressista. E já não é mais o tiozinho ou a tiazinha aposentada, que entre uma novela e outra se debruçam nos muros alheios atrás de um “F5”. Hoje ele é muito mais plural. Pode ser jovem, pode estudar numa federal e pode ter ido à última manifestação Lula Liv… haham, “pela educação”. E ai de você que não foi. Já tem sua caixinha (de fascista) reservada.

Aliás, fascista é a caixinha preferida desse vizinho fofoqueiro – que também pode ser chamado de vizinho patrulheiro. É a caixa que ele mais usa e a que ele menos sabe explicar o que significa. Na ausência de uma caixinha personalizada, a de fascista serve. É bem parecida com o carregador universal que o vizinho usa para carregar a bateria de todos os seus gadgets. É uma caixinha genérica, quase que um “pretinho básico”: cai bem na maioria dos casos.

Por exemplo. Quando o negro não concorda com as pautas do movimento negro, o vizinho já tem uma caixinha para ele. Normalmente, a caixinha de Capitãozinho do mato serve perfeitamente (veja aqui). Milimetricamente sulcada para caber a reputação de qualquer negro que ouse pensar por si próprio e que fuja da sua senzala ideológica.

O pobre também costuma ter sua caixinha especial com o rótulo de Pobre de direita (veja aqui). Se as mulheres não se posicionam da devida maneira, elas são logo cobradas. Onde já se viu, mulher escolher não falar o que o vizinho patrulheiro quer que ela fale (veja aqui)? Os gays também sofrem represálias se não forem de esquerda (veja aqui). Mas, se essas minorias não tem suas próprias caixinhas, serve o pretinho básico mesmo. Fascista.

Homens, normalmente, se encaixam perfeitamente na caixinha de estupradores (veja aqui). Aquela velha história de patriarcado, de cultura do estupro e blablabla.

Vizinhos patrulheiros de toda a lacrosfera, uni-vos! Uni-vos contra todas as pessoas que querem expressar o indivíduo que são e seguir as próprias aspirações e crenças. Vamos persegui-los, se for preciso, até os confins da internet, até a última sequência de zeros e uns que restar!

Brincadeiras à parte – mas com fundo de verdade -, não sou uma pessoa que vê a ideia de classes conectada com a realidade de modo que ela possa servir como perspectiva de análise para enxergar o mundo e seus problemas. Pessoas se juntam por interesses comuns e sim, se autodenominam pertencentes a grupos. Isso é perfeitamente normal. Mas quando a decisão é em grupo, é uma coincidência, e não uma regra. Esse é o ponto. A ideia de que as decisões de uma classe valha para todos e SEMPRE é justamente a ideia que justifica a cobrança quando alguém dessa classe destoar.  É óbvio que não se pode concordar com tudo. Somos indivíduos, cada qual com suas idiossincrasias. O estranho é, justamente, concordar bovinamente.

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A bateria tava quase acabando! hahaha

A inspiração para este texto surgiu, justamente, da mentalidade preconceituosa do esquerdismo. Em uma postagem no Instagram de Jair Bolsonaro, uma discussão se acalorou. Uma pessoa – não é da minha conduta revelar identidades nessa situação – que também participava da discussão, resolveu patrulhar a vida dos vizinhos, viu que me autodenominava artista e chegou à conclusão de que ser artista e votar em Bolsonaro é um contra-senso. Óbvio, assim como pobres, pretos, mulheres e gays, artistas também não podem ter sua própria opinião. Opinião quem tem são as classes, não os indivíduos. Conseguem perceber o grande mal que é esse tipo de ideia? Mais uma vez, o vizinho e as suas caixinhas.

Apesar de não ter votado – acredito que onde o estado não se mete, é onde as soluções aparecem -, realmente chego a quase me arrepender de não ter votado. Imagina a esquerda no poder de novo? Antes o menos pior do que a completa tragédia.

Apesar de militância esquerdista conseguir distorcer o sentido de muitas palavras – brinco com isso com a minha página no instagram @enciclopediabarsoca (veja aqui) – por enquanto, ainda não conseguiu dominar a semântica. Se um dia isso vir a acontecer, ser artista vai significar seguir a cartilha progressista. Esse vai ser o dia que, voluntariamente, deixarei de me definir como artista. Até lá, artistas, pretos, mulheres e gays: libertem-se – enquanto podem!

Portanto, vizinhos patrulheiros, fica a pergunta que não cala: pela liberdade de que minoria vocês lutam mesmo? Quem pode ter opinião própria?

Os quase 30 e a máquina do tempo

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Foto por Giallo em Pexels.com

Amigos leitores. Já faz muito tempo desde que escrevi o último texto, tirei a última foto ou escrevi o último roteiro de tirinha que publiquei aqui no Interferência Urbana. Muitas amizades foram feitas no tempo em que publicamos aqui e hoje consigo ver que o que fizemos à época teve a sua importância e o seu valor. E esse valor continua sendo reconhecido. O blog continuou mantendo o mesmo nível de acesso mesmo depois de anos sem publicar nada. O que me faz pensar que se tivéssemos continuado, provavelmente atingiríamos uma boa relevância.

Confesso a vocês que esse texto está sendo escrito nessa madrugada de quarta para quinta-feira, no dia 30 de maio de 2019, num misto de nostalgia e “auto-vergonha”. Já se pegaram com a sensação de vergonha de coisas que você fez? Pois é, me senti um pouco com vergonha do meu eu da época que escrevia aqui. Da maneira como eu escrevia, por exemplo. Hoje, lendo a mim mesmo, percebo que as vezes era penoso conseguir achar a melhor maneira de dizer o que eu queria. Não tinha lá as melhores habilidades retóricas/textuais/argumentativas – e, convenhamos, continuo não tendo. Mas não somente a maneira de dizer. Muito do que eu dizia eu já não concordo mais hoje. Esses anos de hiato aqui (pretendo voltar a escrever) me fizeram passar por uma brutal mudança de visão de mundo e quero falar um pouquinho sobre isso.

Em 2013, quando comecei o Interferência Urbana com alguns amigos, eu tinha 23 anos e era um recém-formado bacharel em Comunicação Social, trabalhava diagramando, revisando texto, fazendo fotos, artes e até algumas reportagens para o Diário Oficial de Barueri e era um militante de esquerda de um coletivo chamado OCA (Osasco Contra o Aumento) que lutou para revogar o aumento do preço das passagens de ônibus aqui na minha cidade e teve o seu ápice no histórico Junho de 2013, quando as passagens foram, enfim, abaixadas em Osasco, São Paulo e em outras cidades. Quem não se lembra do jargão “Não são só 20 centavos”?

Hoje, tenho 29 anos, sou estudante de música, trabalho com música também, já não trabalho mais no jornal há pelo menos 5 anos e já não compactuo com a minha visão política de 6 anos atrás. O Denis de hoje mudou completamente de lado na visão política e o ano de 2013 foi, na verdade, o começo dessa mudança.

Na época de militante do OCA, promovíamos protestos, invadíamos a câmara dos vereadores, panfletávamos, participávamos de reuniões e articulávamos os nossos atos na sombra dos atos do MPL (Movimento Passe Livre), coletivo do qual participávamos dos protestos e mantínhamos algum contato (nada muito aprofundado). Levamos muita bomba da polícia e respiramos muito spray de pimenta nessa época. Não sinto a menor falta disso, confesso.

Éramos um coletivo apartidário. Ninguém que fundou o coletivo tinha aspirações políticas. Lembro-me que nos primeiros protestos, levávamos 20, 30 pessoas para a rua quando era muito. Mas ao longo do ano de 2013, os protestos do MPL em São Paulo, a repressão policial aos manifestantes violentos e a veiculação de uma verdadeira guerra urbana na grande mídia fez com que, aqui em Osasco, o nosso coletivo começasse a levar cada vez mais gente para as ruas e a chamar atenção da cena política. Vereadores começavam a abrir os seus gabinetes para nos receber e alguns até sinalizavam positivamente, prestando algum suporte. A militância esquerdista começava a salivar de interesse pela liderança do nosso coletivo justamente essa época.

Muitas pessoas filiadas a partidos políticos começaram a xeretar as nossas reuniões e a participar dos nossos atos. Jovens do PCdoB, PT e PSOL eram figuras assíduas nessas situações e era muito claro o interesse dessas pessoas em ganhar capital político em cima da popularidade que a nossa pauta ia progressivamente ganhando. Muitas dessas pessoas pretendiam se candidatar.

Dentro do movimento, havia divergência sobre a participação desses militantes filiados a partidos. Alguns não se importavam que eles participassem das decisões do coletivo. Eu era um dos que não gostava e procurava confrontá-los sempre que possível. Isso gerou um clima de rivalidade dentro do movimento, que já era prenúncio de golpes que viriam na sequência.

Muitos desses militantes filiados acabaram se passando por líderes do nosso coletivo quando perguntados pela imprensa local. No dia do protesto final, um desses militantes se passou por líder do coletivo para ir apertar a mão do prefeito quando esse decidiu decretar a revogação do preço da passagem. O coletivo sofreu um golpe político e eu sofri um golpe ideológico.

Até então, eu acreditava que o homem de esquerda deveria ser aquele capaz de colocar o coletivo acima do indivíduo. Anos mais tarde eu entendi, finalmente, que isso era impossível e que se colocar, como indivíduo, acima do coletivo, era completamente normal. Belo e moral. Mas foi ver a atitude desse homem de esquerda, na prática, que começou a me transformar.

Mesmo quando eu era de esquerda, detestava o PT, Lula e seus cupinchas. Aqui no Interferência Urbana chegamos a produzir tirinhas criticando essas figuras. Mas em 2014, acabei votando na Dilma Rousseff por falta de opção. Voto que me arrependi amargamente de ter dado e não é preciso entrar em detalhes para entender o porquê do arrependimento. Meu esquerdismo começava a ficar bastante abalado e eu estava começando a dar ouvido para ideias que vinham do outro lado.

Nessa época, um dos youtubers que mais fazia sucesso falando de política era o jornalista Dâniel Fraga. Uma figura extremamente combativa que pude conhecer pessoalmente em uma manifestação na Avenida Paulista. Cheguei até a dar entrevista para o sujeito, cujo trecho fez parte de algum vídeo que ele compilou de momentos dessa manifestação. Eu não concordava com muita coisa do que ele dizia, particularmente pela visão de mundo que ele começava a desenvolver: o tal do Anarcocapitalismo.

Nunca gostei da ideia de Estado. Quando eu era de esquerda, sempre tive tendências anarquistas, por achar que o comunismo era um processo muito lento e que eu não tinha tempo hábil de vida para mudanças graduais. Queria liberdade pra ontem e o Estado sempre foi um enxerido querendo cagar regra na vida das pessoas. Nisso acho que eu e o Fraga sempre concordamos, mas eu achava que a ideia de capitalismo e anarquia eram completamente incompatíveis por pertencerem a dois opostos no espectro político. Achava engraçado o termo Anarcocapitalismo.

“Imposto é roubo”. Tá aí uma frase que acho que ninguém é capaz de se colocar contra. Há alguns meses atrás, fiz um post no Facebook oferecendo R$ 1000,00 para quem conseguisse me convencer que imposto não é roubo. Assim como eu não conseguia contra-argumentar isso quando o Fraga dizia, ninguém ganhou os meus R$ 1000,00 oferecidos até hoje. Se você quiser tentar ganhar essa grana, clique aqui e procure o post. Boa sorte!

Quanto mais o tempo passava, mais eu ia me decepcionando com a esquerda e mais eu ia vendo o quanto o discurso do Fraga fazia sentido, o quanto o Estado era incapaz de prover serviços de qualidade e de gastar o dinheiro dos impostos de maneira minimamente eficiente. Fazendo vídeos altamente críticos e sem o menor pudor, Dâniel Fraga começou a incomodar os agentes do Estado e sofreu retaliações por meio de processos judiciais. Em alguns ele foi absolvido, em outros, condenado. Mas no final das contas, ele não pagou nenhuma multa que foi condenado a pagar. O Estado também não conseguiu penhorar nenhum bem do Fraga porque toda a riqueza que ele tinha estava em um lugar onde o Estado não tem controle: uma carteira de Bitcoin, fato que provavelmente fez o Fraga enriquecer muito, porque ele foi um entusiasta da mais popular criptomoeda do mundo mesmo antes do seu valor explodir e se multiplicar muitas vezes.

A verdade é que o Dâniel Fraga me convenceu de suas posições e, pouco tempo depois, sumiu sem deixar rastros. Hoje, o ex-youtuber é tido como uma lenda na comunidade Anarcocapitalista. Comunidade essa que ele influenciou em muito no crescimento e que hoje tem uma representatividade relevante, principalmente entre os jovens.

Depois disso, ainda levei um tempo para digerir muitas das discussões que rolam no meio Anarcocapitalista/Libertário. Uma nova literatura se abriu e novas discussões filosóficas me foram apresentadas. Autores como Mises, Rothbard, Ayn Rand, Rayek, Hans-Hermann Hoppe e David Friedman versam sobre ética, praxeologia, epistemologia e muitas outras áreas dentro do direito, economia e da filosofia. O velho Denis esquerdista tinha mesmo ficado para trás.

Na madrugada de hoje, o Inteferência Urbana se transformou numa espécie de máquina do tempo onde pude reencontrar esse velho Denis de quem hoje tenho vergonha de ver como se expressava e que ideias cozinhava na cachola. Mas começo a ter orgulho dele por ter tido coragem de viver e de expandir os seus horizontes para estar aqui hoje, e de ter visto muitas pessoas lhe virarem as costas por ter tido coragem de mudar e de assumir as suas mudanças. Não pretendo apagar nada que eu tenha feito nem mudar nenhuma linha sequer que eu tenha escrito. Sou experiência viva, uma experiência aberta para qualquer um que se interesse em consultá-la. Talvez, amanhã, eu volte aqui tendo vergonha do eu de hoje, e tudo bem. Essa é a sensação de alguém que foi a frente e reconhece que algo melhorou com o passar dos anos.

Pretendo voltar a escrever aqui para o Interferência Urbana e pretendo começar um canal no Youtube. Não vou contar nada agora, mas pretendo fazer o blog e o canal funcionarem em conjunto. Então, fique ligado e… envelheçamos!

Sua vida por um filtro

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Os brasileiros são os mais íntimos usuários de redes sociais no mundo. Digo intimo, pois ele tem a moral de ser “assim ó” com as redes, tendo intimidade para apelidar. Facebook é Face. WhatsApp é Whats (em alguns casos mais íntimos é ZapZap). E o Seu Insta? Beleza?

Essa intimidade acaba trazendo alguns abusos, afinal, é comum vermos vídeos de brigas, acidentes, mortos e uma porrada de coisa chegando em nossos telefones inteligentes. As pessoas acabaram adotando uma superficialidade.

É sair em grupo e as pessoas ficarem conversando com quem não foi para o rolê. Isso me incomoda e já cheguei deixar algumas pessoas sozinhas. Se alguém se deu ao trabalho de sair contigo, ela merece pelo menos atenção.

Recentemente minha amiga Ruth Feliciano – que não vou dizer o nome porque ela odeia quando eu a promovo – socorreu uma senhora tendo convulsão. Ela começou ajudar sozinha, enquanto as pessoas ao redor estavam preocupadas em filmar ou tirar fotos. Que mundo de merda é esse? Ou melhor, que pessoas de merda são essas?

No trem, houve uma briga de mulheres e ao invés de separarem, estavam filmando. E shows? Não tem graça se você for e as pessoas não ficarem sabendo, você não aproveita, mas está filmando tudo e quando chegar em casa você assiste.

Me lembro da primeira vez que vi Ramones ao vivo. Nem podia entrar com as máquinas fotográficas, mas tenho o show todo na memória, sei as canções, o que fiz, o que fizeram. Não só a primeira vez, mas todas as vezes que os vi e bandas que eu gosto, posso dizer como foi. Não tenho fotos e nem filmagens, mas senti na pele como era estar lá, cantar, vibrar. Hoje precisa de um filtro para seus olhos, se não passar pela tela de seu telefone, não teve graça.

Relacionamentos estão cada vez mais digitais. Fulana fica triste porque Sicrana não entrou na rede social e hoje não se falaram. Suas casas são próximas. Não se liga para a pessoa, não se encontra, não tem tempo para aquela bebida pós expediente. Todos estão ocupados demais, só que a tristeza é porque não foi respondido na internet.

Relacionamento amoroso chegou a pieguice, pois parece ser obrigatório você dizer “Eu te amo e vou digitar para todo mundo ler!”, é necessário mudar o status, compartilhar as senhas, fazer perfil duplo, encher de fotos e declarações no modo digital e o namoro azedar porque não há interação pessoal direta. Te amo para todos verem, menos você.

A tecnologia trouxe muita coisa boa, o problema é que nós não sabemos como usar. Recentemente tivemos a invasão de um site de relacionamentos extraconjugais e milhões de usuários foram expostos. “Esse site está destruindo famílias”, disse alguém, mas eu não me lembro de ocorrências desse site obrigar as pessoas fazerem cadastro. A internet, televisão, novela ou o dinheiro não são responsáveis pela destruição das pessoas, mas sim as próprias pessoas que ao invés de usar o benefício, é usado por ele.

Não sou contra a tecnologia, só gostaria que as pessoas a usassem ao invés de serem usadas e que elas pudessem ver que ao seu redor existem pessoas de verdade, que podem ser tocadas, sentidas e que com certeza pode se aproveitar muito mais a vida.

Tire seus filtros, viva feliz de forma natural.

Conheça o “vazio” que há dentro de você – Série Provocações – Parte I

O silêncio que antecede o caos é o natural vazio das coisas, é o olhar mais sensibilizado da essência. É a própria essência.

E o que é a essa “coisa”? A “coisa” dita aqui é entendida na perspectiva do filósofo francês Émile Durkheim, como um “fato social”, o acontecimento do dia a dia. O caos? É o ruído, o movimento das massas humanas, o seu andar, o seu caminhar, o seu pensar. É todo o verbo na sua mais simples significação. Mas, o que quero dizer com isso? O silêncio que antecede nossos hábitos de vida, nossa rotina, é o vazio natural que existe na sociedade, em nós?

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Somos o “fato social”, o agente do caos (como diria o personagem Coringa, do Batman), responsáveis por tornar as “coisas” reais, no modo de percebemos essa realidade que vivemos.

E quando vamos explorar o vazio, analisá-lo com mais atenção, nos assombramos. Tipo, rola uma inquietação, um certo vazio interior, que chega mexer com nosso emocional. Alguns sentem frustração.

Mas, o vazio não é ruim, é natural, é vislumbrante!

Imagine: você chega a sua casa, se coloca em um lugar sozinho, com a luz apagada, fecha os olhos, sem celular, sem som, sem nada. Qual é a sensação? Parece loucura, tem gente que não aguenta 5 minutos. Que agonia dá ficar só, em silêncio.

Usando o conceito geral do filme Matrix (pode ser qualquer um da trilogia), estamos sempre conectados. Sempre ligados, escrevendo no WhatsApp, curtindo ou compartilhando no Facebook, postando uma foto no Instagram (exemplos).

Não dedicamos um mínimo de tempo para o silêncio, para estar com nosso interior, ausente de todas as coisas externas.

Já percebeu isso? Agimos como se fôssemos um grande bebê medroso e carente. Não podemos ficar sós. Temos medo de nós mesmos. Não procuramos ter autoconhecimento: saber quem somos e ainda mais, saber quem é o outro (fora da realidade virtual).

Outro grande estudioso, psicólogo grego, chamado Viktor D. Salis, em uma das suas explicações do Processo de Formação do Homem Grego na Antiguidade, diria que para se tornar “homem”, isto é, uma pessoa íntegra, consciente de si, é necessário fazer dois  mergulhos: um dentro de si e depois um dentro do outro.

Este mergulho é outra forma de explicar a célebre citação “conhece-te a ti mesmo”. Ou seja, se eu me conheço, sei o que penso, de onde vem esse pensamento, ninguém vai me enganar, me iludir. E também saberei o que tenho de bom, o que tenho de ruim na minha natureza, quais são meus limites, se tenho limites.

Imagine ter consciência disso. Diga-me, seu modo de ver o mundo, de olhar o outro, de pensar no outro, não seria diferente? Você poderia ter mais segurança em si. Não sentiria medo. Sentir-se-ia mais “dono” do seu destino, das suas escolhas. Com isto, penso que estaríamos mais preparados para viver em sociedade. Posso estar errado, você pode discordar e ter suas razões. Se quiser compartilhar, estamos aqui para dialogar.

Para encerrar, só tenho a dizer que isso tudo é muito louco!

Então, pare com esse medo de si. Desconecte-se da Matrix um pouco. Você conhecerá um vazio que bem pensado, não é vazio (parece contraditório, mas não é), pois esse vazio é o todo, somos parte do todo, estamos conectados ao universo (não só ao universo virtual). Como no filme Avatar, lembra-se? Você está ligado a tudo.

Saia do casulo, levante essa bunda do sofá em frente à TV, da cadeira frente ao computador, da cabeça abaixada para o celular.

Vamos viver de verdade?!

Do Betume da Judeia à selfie – 10 imagens históricas do mundo da fotografia

Para quem não sabe, hoje, dia 19 de agosto, é comemorado o Dia mundial da fotografia. Aqui no Interferência Urbana, a 8ª arte tem grande importância. A categoria Cidade Congelada é dedicada exclusivamente à ela!

Pensando nessa importância, resolvemos dedicar um post à esta data, homenageando a história da fotografia desde lá do início até os dias de hoje. Confira o nosso ranking de 10 imagens históricas do mundo da fotografia, começando pela…

1 – Primeira foto da história (1826)

primeira foto da história

A primeira foto da história demorou 8 horas para ficar pronta e foi produzida pelo francês Joseph Nicéphore Niépce numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo fotossensível chamado Betume da Judeia. Um verdadeiro borrão, mas conseguimos identificar algumas construções ao longo de um grande terreno. Começava aí a história da fotografia!

2 – Trabalhadores nas alturas (1932)

Construção do Empire States

Para quem tem medo até de subir na escada para trocar a lâmpada do banheiro, esta foto, certamente, é de tirar o fôlego! Um grupo de trabalhadores almoça tranquilamente numa viga a mais de 250 metros do chão sem qualquer equipamento de segurança. Muitos associam esta foto à construção do Empire States Building, que foi o maior arranha-céu do mundo por um bom tempo no século passado. Na verdade, à essa época, o Empire States já tinha sido construído havia um ano. A foto é também na construção de um prédio em Nova York, mas é do GE Building (ou RCA Building) no Rockefeller Center, em Manhattan.

Alguns questionam o fato dessa foto, que tem mais de 80 anos, ser alguma espécie de montagem, o que nunca foi confirmado. Outra curiosidade é que, na verdade, a foto foi encenada e fazia parte de uma jogada de marketing produzida para promover a construção do edifício.

3 – Dirigível Hindenburg (1937)

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Construído pela empresa Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, o LZ 129 Hindenburg levava 96 passageiros da Alemanha para Nova Jersey, nos Estados Unidos, e acabou caindo devido a um incêndio enquanto era manobrado para realizar a pousagem. 36 pessoas morreram e a história dos dirigíveis na aviação comercial terminava ali.

A banda britânica de rock Led Zeppelin usou esta foto para ilustrar a capa do seu primeiro álbum, intitulado Led Zeppelin, lançado no ano de 1969. Inclusive, o nome da banda ganhou a palavra “Zeppelin” justamente por causa do dirigível Hindeburg, que também era conhecido como Zeppelin.

4 – V-J Day in Times Square (1945)

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A Segunda Guerra Mundial acabava e o estado de espírito do estadunidense era de grande euforia. Alfred Eisenstaedt, dono do registro que completou recentemente 70 anos, conta que o marinheiro da foto saiu beijando todas as mulheres que viu pela frente até chegar na enfermeira, quando deu o beijo que rendeu o clique histórico. E um senhor tapa na cara após o momento da foto!

5 – Autoimolação do Monge Budista (1963)

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O fotógrafo Malcolm Browne ganhou um Prémio Pulitzer por este trabalho fotográfico, feito em Saigon, Vientnã. O Monge Thich Quang Đức queimou até a morte como forma de protesto à política religiosa do governo Ngo Dinh Diem. Seu ato foi repetido depois por outros monges. O monge Thich Quang Đức permaneceu imóvel em sua meditação, sem nem sequer emitir qualquer tipo de expressão ou ruído por estar sendo imolado. É possível até ver esta histórica cena em vídeos no YouTube. Até para ver um vídeo desse, é preciso um pouco do “sangue frio” do monge. Fala sério!

6 – Guerra do Vietnã (1972)

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Esta talvez seja a foto mais famosa do mundo. Dificilmente alguém não conhece o click do fotógrafo Nick Ut, que também ganhou um Prémio Pulitzer por este trabalho, assim como Malcolm Browne. A garotinha Phan Thị Kim Phúc, de 9 anos de idade, fugia de um ataque de napalm feito à aldeia aonde morava por aviões sul-vietnamitas. O fotógrafo prestou socorro à vítima, que sofreu sérias queimaduras. Os médicos disseram que as chances de Kim Phúc sobreviver eram muito raras. Entretanto, contrariando as expectativas médicas, a garota sobreviveu, se formou em medicina e vive hoje no Canadá. Além disso, Kim Phúc criou e mantém até hoje uma Fundação que leva auxílio médico e psicológico para crianças que sofrem com situações de guerra. Um final realmente muito feliz para uma pessoa que praticamente nasceu de novo!

7 – John e Yoko para cover da Rolling Stone (1980)

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Tirada em dezembro de 1980 pela fotógrafa Annie Leibovitz, esta é, sem dúvidas, uma das fotos mais icônicas da história da cultura pop, feita para capa da revista Rolling Stone. Conta-se que foram apenas dois cliques. A única diferença de uma foto para a outra é que em uma John está olhando para a câmera. A outra é justamente a foto acima, escolhida para a capa. Mas essa não é a única curiosidade sobre esta foto. Estas foram as últimas fotografias do ex-Beatles, que morreria algumas horas depois, baleado por Mark David Chapman, contribuindo, sem sombra de dúvidas, para que esta edição da Rolling Stone fosse uma das mais bem-sucedidas da história da revista.

Só como um adicional, eu não tenho essa Rolling Stone, mas tenho um jornal que meu pai guarda desta época, que anuncia na capa a morte de John Lennon. A chamada é sencional!

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8 – O Rebelde Desconhecido (1989)

89 Praça da paz celestial

É até irônico ver tanques de guerra num lugar que leva no nome a “responsabilidade” da paz celeste. O Rebelde Desconhecido (como ficou conhecido, também ironicamente), se coloca no trajeto por onde iria passar uma fileira de enormes tanques, na Praça da Paz Celestial em Pequim, na China, um dia após o governo chinês reprimir violentamente protestos em Tiananmen. O Rebelde Desconhecido ficou tão popular que foi até considerado como uma das personalidades mais influentes do século XXI pela revista Times.

Até hoje, não se sabe ao certo quem era este homem, muito menos qual é o seu paradeiro. Existem várias informações não confirmadas sobre o Rebelde Desconhecido, como por exemplo, a de que ele se chamaria Wang Weilin e teria 19 anos na data da foto. Alguns dizem que ele foi morto poucos meses após o ocorrido. Outros, que estaria ainda vivo, se escondendo. A verdade é que até hoje tudo isso é um grande mistério.

Esta cena foi capturada por mais de um fotógrafo, mas as fotos de Jeff Widener, fotógrafo estadunidense da Associated Press, ganharam grande repercussão rapidamente e se tornaram as mais famosas fotos do Rebelde Desconhecido.

9. A foto mais cara do mundo (2014)

preto e branco

Tirada pelo Australiano Peter Lik no interior do cânion Antelope, no Arizona, Estados Unidos, esta foto foi vendida por incríveis US$ 6,5 milhões (mais de R$ 17 milhões), para um colecionador que não foi identificado. O nome da obra é Phantom, uma alusão à poeira iluminada que sobe do chão, com formas que lembram as de um ser humano. Dá até para o Australiano Peter Lik tomar um sorvete com a grana da venda, não acham?

10. A foto mais curtida do Instagram (2015)

Kendal Jenner

Enquanto a primeira foto da história demorou 8 horas para ser produzida, hoje, dezenas de milhares de fotos são colocadas nas redes sociais em questões de segundos. Só para se ter uma ideia, são postadas cerca de 350 milhões de fotos no Facebook todos os dias e é nesse cenário que a modelo Kendall Jenner se destacou ao quebrar o recorde de curtidas no Instagram que pertencia à sua irmã, a socialite Kim Kardashian. Foram mais de 2,6 milhões de curtidas para o penteado que forma vários corações, registrado numa espécie de selfie.

Esta foi uma singela homenagem do Interferência Urbana aos amantes da fotografia, sejam eles simples apreciadores ou profissionais do ramo. Todos nós hoje temos condições de entrar em contato com esse universo, graças ao acesso à tecnologia que a cada dia vai se democratizando mais, permitindo-nos aventurar tanto pela história da fotografia quanto conhecer a própria parte técnica. Por isso, para finalizar, deixo aqui uma dica de um site de uma fotógrafa brasileira, que pode servir tanto para fotógrafos iniciantes quanto para os mais experientes, quando pintar alguma dúvida: o Dicas de fotografia. Só clicar e conferir!

Agora é só pegar sua câmera e entrar para a história!

Mineiraço e os legados brasileiros

Lágrimas. A torcida abandona as arquibancadas antes do final da partida. Nos lares, silêncio e perplexidade. Os fogos, que seriam pra agora, vão ter que ficar para o ano novo. É… a recente derrota da seleção brasileira de futebol para a seleção da Alemanha por 1 x 7, na Copa do Mundo de 2014, realizada pela FIFA no Brasil, abalou profundamente os brasileiros.

Acabado o jogo, a primeira a interferir no assunto é a imprensa. Os narradores, comentaristas e outros tipos de especialistas tentam fazer o que sempre fazem: achar um culpado. Culpa-se a equipe por um apagão após o primeiro gol, a inversão de posicionamento na zaga, a irresponsabilidade na armação do esquema tático, que não procurou neutralizar jogadas pelo meio-campo como fizeram todas os outros adversários dos alemães, as apagadas atuações do atacante Fred, as ausências de Neymar e Thiago Silva… sobra culpa para todo lado. Na internet, houve quem dissesse que a presidente Dilma Rousseff esquecera de pagar os últimos boletos da conta da Copa comprada.

O Facebook, que antes era palco de grande otimismo, foi transmutado num ambiente de críticas ao que antes preferiam creditar fé e fingir que era bom: o futebol da seleção brasileira. A decepção foi clara. Até foto de gente queimando a bandeira nacional pode ser vista timelines afora. É fato: a comoção em torno do assunto foi e ainda está sendo grandiosa.

Tudo isso que observo é para tentar embasar uma visão nada empírica que tenho sobre a sociedade brasileira. Apesar da falta de dados concretos que me ajudem a apontar a direção que aponto, tudo o que aconteceu hoje em relação à Copa, todo o sentimento causado, está muito fresco e vai ajudar no meu argumento. Toda essa comoção gerada em torno do futebol é a prova de que o brasileiro, indiscriminadamente, se sente dono do legado futebolístico do país.

Por aqui não falta gente que entenda (ou pensa que entende), critique, opine, se envolva, se emocione, se decepcione, deposite sua fé e seu dinheiro nos produtos e serviços que fazem a economia do esporte girar. Sinais de uma grande paixão nacional.

Todo esse envolvimento com o legado futebolístico me faz perceber que não existe o mesmo sentimento para com todos os outros legados que o Brasil nos deixou. Não há o mesmo envolvimento e paixão com as questões políticas, nem com as questões culturais, nem com a educação, muito menos com as pessoas que formam esta nação. O povo se odeia e se mata por motivos menos importantes do que a união de um povo, de um país. Briga de torcida, por exemplo, é um desses motivos. Mais uma prova do “futebol acima de tudo”.

E este é o problema primeiro na ordem de todos os problemas do nosso país: nós não nos sentimos donos do Brasil.

Se você fosse dono de um hotel ou pousada, jamais deixaria que um hóspede viesse, usasse o seu salão de festas pra promover um evento por um mês inteiro, lucrasse muito com isso e saísse sem nem pagar a hospedagem, não é verdade? Pois é. A FIFA fez isso no SEU país e você simplesmente não ligou pra isso. Os seus olhos estavam muito ocupados, torcendo pela continuidade próspera daquilo que você se sente dono: o legado futebolístico. Pouco importa se de tudo o que a FIFA lucrou e ainda vai lucrar com seu evento, absolutamente nada será revertido em benefício de infra-estrutura e serviços públicos do SEU país, porque você não se sente dono dele.

A solução para os problemas do Brasil estão muito claras. Precisamos nos sentir donos do nosso país. Os donos não são os políticos, os empresários, muito menos a FIFA. Os donos somos você que me lê e eu também. Acabar com as barreiras que existem entre o nosso sentimento atual até nos sentirmos donos do Brasil significa nos tornarmos um grande país, pois cada barreira derrubada é um problema derrotado e um degrau a mais na escala da paixão pela nossa terra.

Precisamos entender, criticar, opinar, nos envolver, nos emocionar, nos decepcionar, depositar nossa fé e nosso dinheiro em coisas que façam nosso país cada vez mais protagonista. Precisamos vestir e hastear a bandeira do nosso país todos os dias, não só na Copa do Mundo pra postar foto no Facebook. O futebol não precisa ser tudo. Pode ser um dos nossos grandes orgulhos, um dos nossos grandes legados.

Que esse 1 x 7 tenha sido uma bomba atômica no nosso statu quo para erguermos uma nação maior do que nunca. O Brasil está carente, precisando de gente apaixonada!